terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O Resto é Ruído: Escutando o Século XX


Tenho em mãos o livro de Alex Ross, crítico da revista New Yorker, que faz uma "tentativa" primorosa de criar, em um único livro, toda a tempestuosidade e as contradições da música do século XX.

A aproximação com esse século ainda nos deixa pouco à vontade para dissertar sobre o assunto; todavia Ross consegue, através de uma linguagem moderna, transportar-nos para as conjunturas que criaram as obras mais celebradas do século passado. Inveja, disputas, dinheiro e sexualidade: aspectos da vida humana de compositores como Mahler, Schönberg e até, de forma bem sucinta, Villa-Lobos. Outro aspecto interessante do livro é a abordagem de um assunto tido como elitista e erudito numa linguagem bastante simples, utilizando metáforas atuais e populares.

Recomendo para todo educador musical ou músico que tenha desejo em se aprofundar na história da música do nosso recente e querido século XX - música essa que mostrou contradições e inovações que perseguem o classicismo musical até os dias atuais.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Escuta Só: Do Clássico ao Pop


De Bach a Björk, da música chinesa aos Beatles, de Brahms a Bob Dylan, Escuta só propõe um instigante percurso pelo melhor da música mundial. Organizado em dezenove capítulos temáticos, o livro é uma introdução a algumas das figuras capitais do cânone erudito, explicando em linguagem acessível a arte de mestres como Mozart, Beethoven, Verdi e Schubert. Simultaneamente, canções emblemáticas de ícones do pop como Frank Sinatra, Kurt Cobain e a banda Radiohead recebem releituras inovadoras. Alex Ross combina textos publicados na revista New Yorker, da qual é crítico musical desde 1996, com amostras inéditas de sua premiada produção ensaística. Saudado como “indispensável” pela revista Entertainment Weekly e elogiado pelo conceituado crítico Roger Ebert, Escuta só foi selecionado pela Time como um dos melhores livros de 2010.

Em sua atuação como escritor e crítico - essa espécie de mediador entre os leitores-ouvintes e os artistas que movimentam o circuito sonoro da cultura humana, Ross sempre tem combatido o preconceito disseminado de que a música clássica é elitista e autossuficiente, afastada da realidade cotidiana da maioria das pessoas. Por outro lado, o autor de O resto é ruído - Escutando o século XX procura compreender a música pop como uma manifestação legítima e plena de interesse da cultura contemporânea. Segundo Ross, a música precisa ser entendida (e, sobretudo, escutada) como um modo privilegiado de conhecimento do mundo, chave de acesso a realidades que o discurso racional, por si só, não consegue penetrar. Por meio de uma prosa livre do árido jargão dos especialistas, o autor demonstra que a boa música não reconhece fronteiras entre gêneros, autores, estilos ou épocas quando se trata de seduzir os ouvidos e corações das pessoas.

“A música é simplesmente o que o compositor cria - uma longa cadeia de obras escritas às quais se ligaram várias tradições de execução. Ela abrange o alto, o baixo, o imperial, o clandestino, a dança, a oração, o silêncio, o ruído. Os compositores são gênios parasitas: alimentam-se com voracidade da matéria sonora de seu tempo a fim de gerar algo novo. Eles passaram por tempos duros nos últimos cem anos, enfrentaram obstáculos externos (Hitler e Stálin eram críticos amadores de música), bem como problemas inventados por eles mesmos (‘Por que ninguém gosta de nossa linda música dodecafônica?’). Mas eles talvez estejam à beira de um renascimento improvável, e a música talvez assuma uma forma que ninguém reconheceria hoje.”
“Escuta só vai deleitar tanto fãs de pop quanto aficionados por música erudita.” - New York Times Review of Books.

Fonte: Companhia das Letras. Disponível em http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=12969

iPad e iPhone ganham app para cursos livres das melhores universidades do mundo

Não bastasse lançar uma nova plataforma para publicar livros digitais didáticos, a Apple também aposta em cursos livros das melhores universidades do planeta, tanto que o iTunes U (existente no iOS faz tempo) ganhou um aplicativo especialmente para essa finalidade.


Por meio do iTunes U, o app, os usuários podem se inscrever para receber materiais sobre cursos benquistos na meritocracia educacional mundial. A lista de universidades apoiadoras do aplicativo, com conteúdo nele desde o primeiro momento, é longa e inclui Stanford, Cambridge e Oxford.

Atualmente, estou acompanhando um curso de Produção e Tecnologia Musical pela Open University de Londres e, pelo que pude sentir até agora, o curso é muito completo, cheio de material interativo e de livros (linkados diretamente com o iBooks) que possibilitam que eu crie um ritmo de estudos bem interessante.

E se existe o iCloud, por que não usá-lo para sincronizar as anotações dos estudantes donos de iPads, iPhones e iPods Touch? Essencialmente foi isso o que a Apple fez. Ao ingressar num curso, o iTunes baixa os conteúdos automagicamente para todos os dispositivos. Ao confirmar numa janela, o usuário também ativa a sincronização das notas.

Outro recurso do iOS que a Apple parece tirar bom proveito são as "Push Notifications", notificações que aparecem na tela do aparelho imediatamente assim que um novo conteúdo para o curso é publicado. Assim dá para se manter sempre atualizado sobre aulas novas acrescidas ao programa, entre outras coisas.

O iTunes U é muito, muito útil. Infelizmente, é preciso saber inglês para desfrutar a maioria dos cursos aprovados pela empresa da maçã. Nisso já se reduz bastante a quantidade de pessoas que tirariam proveito do recurso. Ainda assim, as mudanças apresentadas hoje são bem-vindas. Foram mais de 700 milhões de downloads em conteúdos do iTunes U até agora, de acordo com a Apple.

Os professores interessados no iTunes U devem usar o “Course Manager“, gerenciador de curso acessível do navegador. Mais prático, impossível, com exceção de que é preciso ter o Safari instalado na máquina.

Boomwackers: Divertidos e Musicais


Os Boomwackers são tubos feitos de um plástico resistente; cada um deles, quando percutidos, produzem uma nota musical. São muito divertidos e podem ser usados na sala de aula, em atividades anti-estresse e no contexto da musicoterapia.

Tive contato com os Boomwackers numa aula com Érica Viana, minha professora de Vivências em Educação Musical, que adquiriu os instrumentos no exterior.

Ainda são bem difíceis de encontrar no Brasil, algumas lojas o comercializam, porém o preço é bem elevado. Todavia, se tiver algum amigo indo para o exterior, não pense duas vezes em adquirir os seus.

O vídeo a seguir ilustra muito bem as possibilidades do uso dos Boomwackers num contexto de Educação Musical:

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Musicoterapia

A Musicoterapia baseia-se no status que a própria música tem como linguagem não-verbal e, consequentemente, como um canal aberto de comunicação e expressão do ser humano em toda sua complexidade.

Aparentemente, uma definição precisa é, de certa forma, complexa a medida que a Musicoterapia existe na intersecção de duas áreas do conhecimento humano: a música e a terapia, ambas complexas por terem seus limites pouco claros. Ela atua na promoção do bem estar, no controle do estresse, no alívio da dor, na expressão dos sentimentos, na melhoria da memória, na melhoria da comunicação, na promoção da reabilitação físico-motora, etc.

Podemos citar algumas das definições de Musicoterapia, como a de Bruscia (2000), que a define da seguinte maneira: “Musicoterapia é um processo sistemático de intervenção em que o terapeuta ajuda o cliente a promover a saúde utilizando experiências musicais e as relações que se desenvolvem através delas como forças dinâmicas de mudança”. Também, de acordo com Benezon (2008), a Musicoterapia pode ter as seguintes definições:
  • uma especialização científica que se ocupa do estudo do complexo som-ser humano, buscando métodos diagnósticos e os efeitos terapêuticos dos mesmos;
  • uma disciplina paramédica que utiliza o som, a música e o movimento para produzir efeitos regressivos e abrir canais de comunicação, com o objetivo de obter a reabilitação e recuperação do indivíduo para a sociedade;
  • uma psicoterapia que utiliza o som, a música, o movimento e instrumentos corporais-sonoro-musicais, para desenvolver, elaborar e refletir o vínculo entre o musicoterapeuta e o paciente ou grupo de pacientes, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos mesmos, reabilitando-o e recuperando-o para a sociedade.
Na verdade, as variadas definições apresentadas pelo texto somam-se para criar um panorama sobre a Musicoterapia na atualidade, não sendo possível apontar contradições gritantes entre os autores.

É possível ressaltar que a valorização da Musicoterapia está estreitamente vinculada a valorização da própria música dentro das diversas sociedades e uma visão simplista sobre o assunto pode ser totalmente prejudicial para o processo terapêutico. Outro ponto que dificulta a investigação acerca da Musicoterapia é que a própria presença do musicoterapeuta perturba o fenômeno em si, inibindo uma expressão musico-psíquica completa do cliente; isso se deve a própria causalidade do processo e, portanto, o objeto de investigação torna-se um subproduto da relação “forçada” entre cliente e terapeuta.

Mesmo que a expressão musical seja complexa de um ponto de vista investigativo, ela apresenta analogias com a linguagem verbal. Ambas representam um código que implica em seleção e combinação de diversos elementos categorizando-se, assim, como linguagem. Essa caraterística têm ajudado o Musicoterapia a deixar de ser uma prática que existia apenas no âmbito da não-verbalidade para atuar na intersecção entre as duas linguagens: musical e verbal.

O pressuposto para o estudo da Musicoterapia dentro da Educação Musical mora na afirmação de Gainza (2008) de que, tanto os processos educativos como os terapêuticos, supõem o estabelecimento de uma relação entre a pessoa e a música, tanto esta sendo o objeto final como objeto intermediário, ou seja, como fim em si mesmo ou como meio para.

Referências

Breve História da Musicoterapia. Material Didático do Curso de Vivências em Educação Musical 13. UAB-UFSCar – 2011. Disponível em ‹http://ead.sead.ufscar.br/mod/resource/view.php?id=35446›. Acesso em 10 fev. 2011.
American Music Therapy Association. What is the Profession of Music Therapy? Disponível em ‹http://www.musictherapy.org/›. Acesso em 10 fev. 2011.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Tutorial de Instalação e Manual do Finale 2011



Que músico não bateu cabeça atrás de um editor de partituras? Depois de encontrá-lo, quem já não se atrapalhou com o uso desse tipo de software? Na minha jornada pessoal, passei por editores como o Encore, Melody X e Sibellius, até me encontrar no Finale 2006 e suas versões subsequentes.

O Finale, além de prover muitos recursos de editores de partituras convencionais, vem com ferramentas ótimas para o educador musical, através de um controlador de MIDI em USB o aluno pode tocar partituras com a ajuda do software, que indica os erros e acertos guiando assim a prática instrumental. A biblioteca de instrumentos Garritan, que acompanha o software, é bastante rica e, nas mãos certas, pode fazer uma orquestra soar real.

Os únicos ponto negativos são a falta de uma versão em português (até a versão atual); e não possuir um virtual singer (plug in que faz com que o software cante a letra de uma canção), ferramenta muito útil para aqueles que trabalham com arranjos para corais ou composição de música popular.

Existe também uma versão do Finale sendo produzida para iPad, todavia ela só possui a ferramenta para visualizar os arquivos feitos no Finale:


Não podemos esquecer do preço. O Finale 2012 custa, em sua versão mais completa, módicos U$ 600, valor muito além do que os brasileiros, profissionais ou não, têm condições de pagar. Por essa razão, aqui vai o link para você baixar e um tutorial de instalação do Finale 2011 para Windows e Mac OS X:


Tutorial de Instalação para Windows e Mac OS X


- Descompacte o arquivo;
- grave num DVD ou monte a imagem do arquivo (Alcohol 120% ou Daemon Tools) r-mf2011.iso;
- Instale o Finale 2011;

No Windows:

- Copie o arquivo patch_finale_2011.r2.exe da pasta REBELS que está na imagem r-mf2011.iso para a pasta do Finale 2011 que geralmente está no caminho C:\Program Files\Finale 2011 ou C:\Program Files(x86)\Finale 2011;
- Clique com o botão direito sobre o arquivo patch_finale_2011.r2.exe e abrá-o como Administrador e aplique o Patch;

No Mac OS X:

- O Finale 2011 ainda é universal, portanto roda em Macs Intel ou PowerPC;
- Monte a imagem r-mf2011.iso e instale o Finale 2011;
- Copie o arquivo Finale 2011 da pasta REBELS da imagem r-mf2011.iso para a pasta onde o arquivo original está instalado (geralmente /Applications/Finale 2011.app/Contents/MacOS) e o substitua. Para chegar até essa pasta clique com o lado direito (ou com o botão control segurado) sobre o arquivo Finale 2011 (nos Aplicativos do Finder), clique em Mostrar Contéudo do Pacote, abra a pasta Contents/Contents/MacOs

Depois de ter essa maravilha instalada no seu computador, talvez você tenha algumas dúvidas sobre como usar todo o potencial desse software. Para isso, disponibilizo aqui um manual em português para que você extraia o melhor do Finale. O manual é para a versão 2010, todavia o uso na versão 2011 é praticamente idêntico.


Espero ter ajudado, qualquer dúvida deixe um comentário.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Musicophilia (2007), Música e Consciência

Olá a todos.
Através desse, post gostaria de explanar um pouco sobre o blog Projeto Musicophilia e de onde surgiu a inspiração para esse trabalho.

musicofilia
s. f.
Paixão pela música.
(Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Disponível em http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=musicofilia)


Musicophilia, na verdade, é o título original do livro de Oliver Sacks do ano de 2007, lançado no Brasil como Alucinações Musicais (Companhia das Letras, 2007). Nem preciso dizer que o título original soa muito melhor (tanto que influenciou minha escolha do nome do blog), além de que o assunto sobre alucinações musicais é apenas uma parte ínfima do livro.

Neste livro, Sacks oferece histórias musicais envolvendo pessoas comuns ou portadoras de distúrbios neuroperceptivos. O que se passa com o cérebro humano ao fazer ou ouvir música? Onde exatamente reside o poder, muitas vezes indomável, que a música exerce sobre nós? Essas são algumas das questões que o autor explora nesta coletânea de casos, mostrando, por exemplo, como a música pode induzir a estados emocionais que de outra maneira seriam ignorados pela mente, ou ainda evocar memórias supostamente perdidas nos meandros do cérebro. O estudo de casos de pessoas com distúrbios neurológicos ou perceptivos ligados à música reitera a crença de Sacks em uma medicina que humaniza o paciente e tenta, junto com a abordagem clínica, integrar as dimensões psicológica, moral e espiritual, tanto das afecções quanto de seu tratamento. Esse livro teve um impacto muito grande sobre mim e sobre as minhas questões sobre a apropriação da linguagem musical e consciência.

A história que abre o livro é uma das mais impressionantes e é aquela que me atira diretamente para a discussão sobre o que é a consciência. Tony Cicoria é um cirurgião que foi atingido por um relâmpago, tendo sofrido alterações de percepção. Ou seja, a partir dessa altura começou a ouvir música dentro da sua cabeça. Não quando queria ou imaginava, mas como ele descreve de forma quase “possuída” e em torrentes, a tal ponto que, apesar de nunca ter estudado música, começou a aprender piano e, ao fim de algum tempo, começou a compor a partir daquilo que ouvia.

Conheci esse livro através do projeto Biophilia, da cantora Björk, que também se inspirou no título original da obra para criar seu ambicioso projeto. Musicophilia, para mim, é um resumo de tudo o que acredito sobre a música dentro da vida e consciência humana, ela alcança e interliga partes do nosso cérebro inalcançáveis de outra forma; daí o caráter mágico/religioso que à ela foi aferido dentro de tantas culturas.

Nesse âmbito, o Projeto Musicophilia tem por objetivo criar uma ponte entre o mundo musical e mundo intrapessoal para cada indivíduo que, porventura, queira se apropriar da linguagem musical para tornar seu mundo interno mais lógico e mágico simultâneamente.

Para aqueles que gostariam de adquirir o livro clique aqui. Para baixar o ebook em PDF (free, hehehe) deixe um comentário.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Lenine e seu "Chão"


Espera... o que é isso? Batimentos cardiacos, respiração, passos, chaleira, canto dos pássaros, motosserra, lavadoura de roupas? São apenas alguns dos sons que compõem a base da suíte que Lenine batizou de Chão. Suíte pois os sons cotidianos interligam todas a músicas do álbum e criam uma bela e sensível percussão. "No início, havia apenas a palavra e meu principal significado para chão: tudo aquilo que me sustenta. "Chão, quase uma onomatopeia do andar – que soa nasal e reverbera no corpo todo”, diz Lenine, pontuando como construiu o nome para o seu décimo disco.

O disco traz ainda o violão leniniano com sua forte percussão e sua sujeira, como o próprio músico o denomina. As músicas ainda trazem todo o hibridismo entre o regional e o mundial, o folclórico e o high-tech, todas marcas do compositor pernambucano.

Logo na capa do álbum, todo o sentimentalismo envolto no novo trabalho se resume: uma foto retirada do álbum da família. “É meu neto. Ele estava dormindo sobre mim. Corrobora este significado de sustento porque, naquele momento, eu era o seu chão”, diz Lenine.

Chão também conta com a participação de Bruno Giorgi, filho de Lenine, que colaborou com a criação e gravação dos sons cotidianos que aparecem por todo o disco.

A Orquestra de Instrumentos Reciclados


Esse grupo não apenas toca, mas constrói seus instrumentos utilizando lixo. É isso mesmo: eles constroem seus instrumentos reciclando sucata; porém, sua música tem grande valor.

A Orquestra de Instrumentos Reciclados é do Paraguai, cuja a maioria dos integrantes não tem condições financeiras de comprar seus próprios instrumentos, não iria deixar esse pequeno problema atrapalhar sua música; por essa razão, resolveram construí-los. Os membros da orquestra são estudantes do projeto "Sonidos De La Terra", uma organização que se dedica a criar oficinas e escolas de música em áreas menos privilegiadas do Paraguai, onde esses músicos talentosos aprendem as técnicas de construção de instrumentos com material reciclável. Muitos deles deixaram seus trabalhos num aterro sanitário como recolhedores de lixo para se dedicarem a música em tempo integral.

Até agora, 12 mil pessoas aprenderam essa arte única dentro desse projeto e juntos já fizeram cerca de 700 instrumentos. Os músicos participantes da orquestra não ficaram no anominato e já realizaram cerca de 80 apresentações. Em 2008, tocaram para o ex-presidente americano Jimmy Carter e para o ganhador do Prêmio Nobel (ex-presidente da Costa Rica) Oscar Arias. Parece que esses músicos podem criar música de qualquer coisa, até do lixo.

'Nós estamos no século 21 e temos o pior som que já ouvi', diz Neil Young

SÃO PAULO - Neil Young está irritado com a música atual. O músico de 66 anos criticou veementemente o novo modo de como ela é feita e distribuída em uma entrevista publicada pela MTV News neste domingo, 22. Young está preocupado com a perda de qualidade sonora na música digital - difundida com muito mais facilidade que os discos, através de aparelhos que reproduzem arquivos compactos, como o MP3. "Eu não gosto. Isso me deixa nervoso. Não a qualidade da música, mas nós estamos no século 21 e nós temos o pior som que eu já ouvi. Cadê os nossos gênios? O que aconteceu?", questiona.

O músico defende ainda que, ao ser convertido para MP3, o áudio mantém apenas 5% de seu som original, o que configura um grande problema em termos musicais. "Se você é um artista e cria alguma coisa que você acha 100% ótima, mas o consumidor terá só 5%, você se sentirá bem?", argumenta. (Fonte: Estadão. Disponível aqui)

Neil Young se mostra um crítico veemente do cenário musical atual, um mercado que, ao meu ver, ainda é dominado pelo marketing de artistas que vendem mais "atitude" do que música. Todavia, a atual conjuntura do cenário musical é fruto do próprio negócio musical, esse mainstream remonta desde de antes da época em que Neil Young ascendeu e se firmou como um ícone da música folk. O fim do LP e do CD é apenas um sinal dos tempos e, como afirma o músico, o MP3 é apenas uma amostra do som original da música. Porém, essa perda de qualidade é praticamente insignificante para o consumidor final que não possui os equipamentos necessários para sentir essa diferença; ele ouve música em seu iPod com seus fones de ouvido.

Aparentemente grande parte da revolta de Neil Young com o negócio musical atual é direcionada aos avanços tecnólogicos da área que, além de possibilitar a criação de um novo som, construiu um novo paradigma da relação entre criadores e consumidores musicais. A abertura do campo musical para os amadores e experimentalistas é um dos aspectos positivos do desenvolvimento tecnológico; todos podemos criar e consumir música de formas nunca antes imaginadas. Infelizmente, esses mesmos paradigmas rejeitam de forma bastante violenta as tentativas de reacionarismo: o passado é passado.

Não se quer aqui diminuir o valor de Neil Young para a música global. Todavia, um talento como o dele não será nada alterado por um modelo de negócio musical diferente; ainda seremos capazes de perceber toda sua genialidade ouvindo apenas 5% de sua obra.


domingo, 22 de janeiro de 2012

O GarageBand para iPad é tudo isso e muito mais

Dentre as novidades e todo hype em torno do lançamento de modelos de iPad cada vez mais poderosos, podemos citar um aplicativo que, para um músico ou educador musical, já compensa a aquisição do aparelho da Apple: o GarageBand.

O software sempre foi impressionante desde sua versão para o sistema operacional da Apple - poderoso e com uma interface bastante amigável para os iniciantes; todavia, no iPad, essa facilidade foi elevada a outro nível. Além de fazer quase tudo que o GarageBand já fazia no seu iMac, ele traz a possibilidade de utilização de instrumentos virtuais totalmente redesenhados para a interface de toque da tela de 9" do iPad. Baterias, guitarras, violões, pianos e teclados são os instrumentos virtuais que já fazem parte do app, além da possibilidade de gravação de áudio externo através de um adaptador USB ou microfone externo (iRig por exemplo).



Mesmo que o aplicativo tenha sido desenhado para o iPad 2 funciona com perfeição na primeira geração de iPads, possuindo também versões mais mobile ainda para iPhones e iPod Touchs.

Um dos pontos negativos do aplicativo é a manipulação de arquivos de áudio externos, uma limitação irritante para pessoas que, como eu, gostam de utilizar áudio de sua biblioteca particular. Quando experimentarem e começarem a “anotar” mentalmente as limitações, pensem nisto: se um dia o PortaStudio da Tascam revolucionou a indústria com a sua capacidade de gravação em quatro pistas numa solução portátil analógica, podemos também dizer que o GarageBand no iPad altera, fundamentalmente, todas as possibilidades atuais de aprender e fazer música - um ambiente portátil com capacidades e uma potência que nunca antes existiu.

Para ilustrar esse poder, aqui vai um video de um cara que gravou "Something" no GarageBand para iPad:




Valorização da Música no Brasil


Durante uma rápida busca na internet sobre o assunto, me deparo sempre com a mesma questão: Existe uma real valorização da música como área do conhecimento humano no Brasil?

É interessante saber que o país do samba, da bossa nova e do choro deixou muito dos criadores dessas obras morrerem de fome. O músico profissional, atualmente, se desdobra em múltiplas funções para poder garantir uma vida minimamente digna; o professor de música se afasta do ensino regular, pois não encontra abertura ou estrutura para realização do seu trabalho.

Valorizar a música é se apropriar da linguagem musical, não apenas produzindo música, mas a compreendendo como a uma língua falada. Essa simples aproximação da música pode criar um novo olhar sobre o papel da arte em nosso país, mudando a idéia de que as artes são mero entretenimento para sentidos ávidos por prazer imediatista.

Linguagem falada pode ser polida, clara, encantadora e sedutora, todavia pode ser chocante, chula e áspera; o mesmo podemos inferir as linguagens artísticas. Atualmente, podemos verificar que as mesmas só são apreciadas quando enquadradas nos modelos pré-concebidos pelo mercado, fato que castra e censura um discurso artístico de qualidade. Criando novamente um paralelo com a linguagem falada, seria o mesmo que ser repreendido por um interlocutor quando você expressa suas ideias ou sentimentos sobre algum assunto pelo fato do interlocutor descordar. Num discurso artístico realmente eficiente, não existe censura ou repreensão, existe abertura para o debate de ideias.

O que é possível perceber claramente é que a música no Brasil ainda é um assunto secundário e de importância "duvidosa" devido à própria falta de conhecimento das pessoas sobre o assunto. A própria lei 11.769 de 2008, que obriga a presença da música dentro do ensino regular, é bastante vaga e deixa explícito que o senso comum acredita no que chamo de "música de fundo", a que acontece apenas para acompanhar um evento. Quando não se presta a devida atenção à música, produções musicais carregadas de valores sociais distorcidos e de qualidade musical duvidosa invadem nossas vidas; passam desapercebidas pelo nosso senso crítico adormecido pela própria desvalorização artística.


Melhor Projeto de 2011



Como educador musical e admirador do trabalho de Björk, não poderia me furtar de falar um pouco sobre essa incursão maravilhosa com a qual a artista nos presenteou no ano 2011. O trabalho Biophilia, lançado em novembro de 2011, busca criar uma interseção entre Música, Ciência e Tecnologia de uma forma jamais abordada anteriormente.


Primeiramente deve-se ressaltar o fato de que Biophilia veio ao mundo como um aplicativo para iPad, um app-mãe que abriga dez outros aplicativos, um para cada uma das músicas criadas para o projeto. Esses apps vão desde jogos, onde você deve traçar seu próprio caminho por túneis que te levam a recriar a estrutura das partes A, B e C de uma canção, até a assistir animações sobre toda a vida e cor pulsante existente dentro do núcleo de uma célula do corpo humano. Cada um dos aplicativos busca tornar palpável e visível a experiência da interação do homem com a música.
Como a música, a pedagogia dentro desse projeto é palpável. Björk diz: "Iniciei esse projeto libertando a professora de música frustrada que existe em mim, porém fui eu quem acabou aprendendo muito". Biophilia é um álbum, uma suíte de aplicativos para iOS (iPhone/iPad), um show, uma instalação itinerante e um projeto educacional para crianças.

Um projeto de tal magnitude vindo de uma artista que sempre tentou levar sua música de vanguarda aos ouvidos acostumados ao popular, é o que podemos chamar de "previsível" e muito agradável aos ouvidos, olhos e mãos de um educador musical que busca a valorização social da música. 
Recomendo o aplicativo e o disco a todos que estejam abertos ao novo: corais femininos cantando glissandos hipnóticos; sons criados por instrumentos não-convencionais, como um Tesla Coil que toca arpeggios com descargas elétricas e harpas que se movem com a força gravitacional; e por último, e não menos impressionante, a voz de Björk que direciona e costura todas essas estruturas para criar canções de uma linda estranheza.
Todavia as novidades não acabam por aí, quanto ao show, Björk trará a turnê de Biophilia ao Brasil, mais precisamente a São Paulo, no Sonár Festival, no dia 11 de maio de 2012.
Encontro vocês lá.